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Individualidade, essência da comunidade

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Alguns ajuntamentos de pessoas, com o passar dos tempos, desenvolvem uma identificação entre as pessoas de forma bastante singular. Vai-se criando um sinergismo, uma relação de afinidade e comprometimento naturalmente fortes. Com o tempo podem-se criar nestes grupos um nível tão alto de identificação que surgem “comunidades”.  Isso acontece, pois várias pessoas usam seus talentos e habilidades de forma tão harmoniosa que conseguem ter um “organismo” onde todos é resultado muito maior que a soma de cada um dos integrantes. Assim, mulheres, crianças, adolescentes e homens juntam suas potencialidades e buscam esse objetivo comunitário.

Até aqui, podemos destacar elementos primordiais para que comunidades existam. E claro, sabemos que o maior exemplo de comunidade é a Igreja de Cristo. Nós somos capacitados pela Santíssima Trindade a sermos reflexo de sua própria maneira de ser. Nosso Deus Trino e a união das Três Santíssimas Pessoas. Logo a Igreja deve refletir essa forma de relacionamento ao mundo: comunidade. Na comunidade não temos a enfraquecimento do indivíduo como muitos pensam. Pelo contrário, a comunidade faz-se verdadeira somente quando temos a liberdade de exercermos nossa individualidade em plenitude. É sobre este aspecto que queremos falar: individualidade. Para isso vejamos o seguinte texto de Paulo na sua carta aos Corintos (I Co 12:4-7, 12-14)

Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum (…). Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito: quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito. O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos.

O que acabamos de ler é a exortação de Paulo para que a Igreja de Corinto não se perdesse na caminhada. O que acontecia lá? Era a disputa por querer provar que o que “eu” fazia era mais importante que o outro. Assim eles deixavam transparecer dois problemas: o de que para sermos “necessários” deveríamos ter determinado “dom maior”, assim acontecia a exclusão de muitos. Claro que fica nítida as conseqüências dessa postura: individualismos, anulação do indivíduo e enfraquecimento da comunidade de fé.

É este o alerta que queremos transmitir. Em Cristo, manifestamos a multiforme sabedoria de Deus para que haja uma comunidade visando ao bem comum. Vejamos.

 

Individualidade e Comunidade

Parece um contra senso essas duas palavras juntas. Porém assim como a planta precisa do sol, a comunidade só sobrevive na expressão da individualidade de seus membros. Isso Paulo deixa bem claro em sua advertência: “um só corpo, muitos membros”, cada qual com sua funcionalidade e contribuindo para um bem comum. E todos “ligados a um só Cristo e recebendo um só Espírito”.

Acho fundamental explicarmos os termos individualidade e individualismo, pois, por mais que se pareçam, em som e escrita, são bastante distintas suas definições. Individualidade é a expressão do indivíduo, do conjunto de características, potencialidades e particularidades que expressam a singularidade da pessoa. Assim, individualidade é a expressão máxima da pessoa livre. Individualismo é quando, para justificar meus objetivos, até mesmo minhas potencialidades, eu anulo o outro. Assim, para que eu exista, tenho que pagar qualquer custo para que isso aconteça, mesmo que este custo seja a aniquilação do humano. Como consequência deste comportamento, teremos o isolamento da pessoa, e posteriormente, a aniquilação de sua própria individualidade. Por fim, o enfraquecimento da coletividade e fim da comunidade.

Essa era o problema visualizado por Paulo na Igreja de Coríntios. Alguns irmãos desta comunidade estavam com posturas completamente individualistas, achando que a expressão de seu dom era a justificativa para anular o outro, afinal, “eu tenho o dom maior do que o seu”, assim sendo “sou maior e mais importante que você”. Deste tipo de comportamento começa a surgir justificativas para a opressão de outros ou até da obrigação de que todos tenham as mesmas capacidades, o mesmo jeito de agir, pensar e perceber as coisas. Isso leva a anulação do indivíduo e ao aprisionamento das pessoas.

Por isso Paulo insere, movido por Deus, que é comunidade, o conceito da Igreja como corpo. Há como o corpo viver sem uma das partes sem prejuízo ao todo? Logo, “quando um membro sofre, todos os outros sofrem” (I Co 12.26), assim, unidos, porém com habilidades distintas expressamos formamos um só corpo no Senhor. Nisso fortalecemos a comunidade da fé, possibilitada em Cristo, o Deus Filho na Comunidade da Santíssima Trindade.

Não podemos então, deixar em momento nenhum, nossa tendência pelo individualismo, a famosa história do ditado popular “farinha pouca, meu pirão primeiro” ou ainda do “fim justifica os meios”, tomar conta de nós. Pois ao fazê-lo estaremos sim em um processo de autokiller e preparando nossa própria extinção.

Individualidade é para o bem comum

            A individualidade então é intimamente ligada ao outro. Sem o outro não sou diferente. Sem o outro não posso desenvolver novas habilidade para interferir no mundo e mudar a realidade ou necessidade que se apresenta. Por isso o respeito, o cuidado e o amor ao próximo são expressões do próprio Deus em nossa vida. Visando atender ao outro, ou seja, o bem estar da comunidade, Deus se manifesta em cada um de nós, de maneira diversa, singular e individual. O apóstolo Pedro expressa isso de maneira muito clara em I Pedro 4:10-11:

Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas. Se alguém fala, faça-o como quem transmite a palavra de Deus. Se alguém serve, faça-o com a força que Deus provê, de forma que em todas as coisas Deus seja glorificado mediante Jesus Cristo, a quem sejam a glória e o poder para todo o sempre. Amém.

É assim a comunidade que decide expressar Cristo. Todos, em suas potencialidades e em seu dom, de forma que em todas as coisas possamos atender ao outro. É para isso que Deus nos capacita, cada qual para uma tarefa, um ministério e assim por diante.

Assim, quando impedimos, ao invés de possibilitarmos a expressão do indivíduo, anulamos a comunidade, o que significa impedir a ação do Espírito Santo de Deus em nós. Por isso, tanto a comunidade quanto a individualidade são tão intimamente ligada, pois uma só sobrevive na outra.

Que possamos, estar sempre unidos no amor de Deus. Prontos a expressar nossos dons e talentos em favor do outro. Desta forma estaremos continuamente sinalizando uma nova forma de viver, uma forma verdadeiramente humana e comunitária, que tem sua representante como representante na Terra a igreja de Cristo e sua expressão máxima no próprio Deus Trino.

blog1408

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4 Respostas »

  1. Gostaria de fazer alguns comentários, e desde já aviso que não é uma crítica, se parecer, pode ter certeza que é uma incapacidade minha em escrever um texto menos seco.
    A nossa individualidade são nossas características próprias, nossa personalidade, onde nós deixamos Deus aprimorar nossos talentos e onde ele nos concede dons. Alguns traços desta nossa individualidade são meramente reprodução do que aprendemos socialmente. E é aí que surgem os problemas, e talvez comece a gerar este comportamento prejudicial que é o individualismo. Somos formados, desde pequenos, e cada geração experimenta isso com mais intensidade, a desenvolver essas características que nos qualifica, que nos distingue do todo social. Somos levados a ter opinião, fazer escolhas baseados nos nossos interesses, gerir nossa vida buscando o máximo de felicidade (bem, em tese). Até aí tudo bem. O problema é que enquanto nossa individualidade é reforçada, nosso sistema de valores (que é baseado na vida em comunidade) é enfraquecido, mas não numa relação necessária. Nossa sociedade tem passado por uma crise de valores, o que gera o desenvolvimento daquele comportamento prejudicial (chamado de individualismo) que desconsidera as regras necessárias à vida coletiva, tornando legítimos comportamentos egoístas, traiçoeiros, etc, em nome da autorrealização.
    Acho que quando falamos da comunidade dos seguidores de Cristo temos que ter muito claramente os objetivos que foram determinados por Ele próprio, o qual é a proclamação do Evangelho das boas novas. Fomos feitos igreja, não para construir templos e depois brigar pela liderança. Fomos chamados para sermos luz, para anunciamos a salvação em Jesus, para fazer o mundo ver o amor de Deus, expresso em nossas vidas. Desta forma, alguns traços da minha individualidade, ou seja, meus dons, meus conhecimentos, minhas habilidades, devem ser usados para este propósito e não minha opinião, meu desejo por poder, minha incapacidade de amar.
    Que Deus continue usando sua vida.
    Um grande beijo Deivis!

    • É exatamente esse o aspecto que tentamos alcançar neste texto Mônica.
      Que temos que ser indivíduos, exercendo os dons que o Espirito Santo de Deus concede por sua graça a cada um. Esse carisma só faz sentido em comunidade e só consegue ser expresso na garantia da individualidade pessoal. Nisto, servimos a comunidade e a mantemos, pela graça do Espirito, todos em um só corpo.

      Abraços.

  2. Excelente texto!
    Tenho aprendido a viver em comunidade sem abrir mão da individualidade. Em alguns momentos, me decepciono, pois nem todos compreendem a diferença entre individualidade e individualismo. Por conta disso, acabo sendo questionado sobre os meus momentos de ser indivíduo. Mas isso também é um aprendizado. Tenho aprendido a responder de modo que a pessoa perceba que ela também tem essa necessidade.
    Acredito que parte dessa dificuldade está relacionado ao fato de confundirem ajuntamento de pessoas com comunidade, inchamento com qualidade. Mas essa é outra história.

    • Esse seu ponderamento é de fundamental importância.
      Temos que realmente lançar luz sobre estes conceitos e reavaliar seriamente o que estamos construindo enquanto família, igreja…

      Abraços irmão.

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