Nossa percepção de mundo e evangelho

Máscara

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Leiamos o capítulo 23 de Mateus, porém destaquemos esse trecho por enquanto:

“Mas o maior dentre vós será vosso servo.
Quem se exaltar, será humilhado; e quem se humilhar, será exaltado”.
(NVI)

ou

“Quer se destacar? Humilhe-se. Seja um servo. Se ficar inflado de orgulho, será arrastado pelo vento. Mas, se estiver satisfeito em simplesmente ser você mesmo, você terá vida plena.”

Mateus 23:11-12 (A Mensagem)

Qual de nós, quando éramos crianças, não brincou com máscaras?

Quem nunca teve vontade de ser o Zoro ou outro herói mascarado, que ao colocar sua máscara se revela para o mundo de uma forma totalmente diferente e destemida?

Máscaras trazem esse encanto. Com elas posso esconder aquilo que verdadeiramente sou. Usando máscaras consigo esconder uma pessoa que não quero mostrar para os outros, na verdade, esse é o principal objetivo da máscara: esconder-se.

Logo, máscaras podem nos “proteger” de possíveis perigos, ou até mesmo manter nossa identidade secreta, assim conseguimos viver uma realidade paralela. Vislumbra-se a possibilidade de uma vida atraente, sem nossas falhas ou limites, diferente de nossa vida “original”. Pode-se chegar ao ponto de transformar-se em outra pessoa. Esse é o alge do disfarce. A máscara adquire uma identidade que própria. Neste instante faz-se com que “duas (ou mais) pessoas” que começem a cohabitar o mesmo espaço/corpo. Começamos a confundir as identidades. Como Batmam e Bruce, Homem-Aranha e Peter Parker, Zoro e Dom Alejandro e tantos outros que podemos lembrar. Qual desses que falamos que é o personagem principal?

É aqui que percebemos as grandes distorções da máscara.

O personagem que eu criei para o uso da máscara é tão descolado, tão melhor que o “eu original” que começo a viver uma mentira, preferindo o personagem mascarado que há em mim. E isso é uma realidade que atinge a todos. Chegamos a criar máscaras diferentes para ocasiões e públicos distintos. Temos um mascarado para a faculdade, outro para o trabalho, um para a igreja, um mais calmo que deixamos separado para lidar com as questões de relacionamentos familiares e assim por diante. Tantos quantos foram necessários para que eu (ou nós), possamos ter a certeza de ser aceito nos diversos meios sociais que transitamos.

Nesse momento já podemos falar do porque utilizamos esse artifício das máscaras.

E porque usamos máscaras?

Usamos máscaras principalmente por dois motivos que andam juntos. O primeiro é porque temos necessidade de sermos aceito pelos outros. Claro, esse é um motivo forte e completamente legítimo, é uma realidade humana, somos seres sociais, ou seja, dependemos de contato e relações com os outros para que assim possamos tornar a vida viável. Porém esse aspecto motiva-nos ao segundo. Usamos máscaras, pois temos medo de sermos rejeitados, de sermos excluídos do grupo. Temos medo de não agradar aos outros. Pior, temos medo de não pertencermos a lugar nenhum e dessa forma sermos “um nada” social. Isso é o que nos faz ter medo de mostrar o que realmente somos. Assim usamos máscaras.

Não se sinta diminuido. Todos, sem excessão, sofremos desse mal. Todos nós aplicamos e usamos, até com certa propriedade e domínio o artifício da máscara por causa de nosso medo.  Não temos que esconder que o fazemos, ao contrário, devemos prontamente identificar e reconhecer “o mascarado” que mora dentro de nós. O desafio para iniciar a mudança é justamente esse, perceber e assumir que usamos máscaras, que tentamos enconder o que verdadeiramente somos e sentimos. Devido ao medo que nos oprime, tornamo-nos pessoas inseguras de nossa personalidade.

Insegurança.

No meu entendimento, esse é o ponto chave de todo o processo. A insegurança surge como fruto do nosso medo. Começamos a não mais enfrentar nossos desafios e batalhas com o nosso verdadeiro eu. Apresentamos sempre aos outros e ao mundo nossa máscara e com ela enfrentamos os problemas. O que acontece então. Começamos a acreditar que nossa máscara tem um tipo qualquer de “super-poder”, pois com ela enfrentamos, resistimos e vencemos nossos problemas. Pronto, acabamos de nos tornar pessoas dependentes dessa mentira em que criamos. Somos agora pessoas inseguras. Já não nos reconhecemos mais sem o uso de nossas máscaras. Começamos a esquecer nossos rostos.

Consequência,

            Tornamo-nos pessoas inseguras e superficiais. Começamos a esquecer de quem realmente somos. O medo nos torna inseguros. A insegurança nos faz prisioneiros dentro de nós mesmo. Essa prisão é a máscara que apresentamos aos outros.

Começamos a criar todo um enredo, métodos e uma lógica para sustentarmos esse nosso personagem mascarado. Ele, pelo que consigo identificar em mim, se alimenta dessa falsidade e mentira, que é saciado pelo meu medo e insegurança.

Passamos a ser pessoas então insensíveis. Pelo medo da reação dos outros e por isso não nos permitimos sentir, ouvir, tocar. Tornamo-nos estéreis aos nossos sentimentos e aos sentimentos dos outros.

Nossa vida torna-se vazia, sem emoções, programada. Começa-se a viver uma falsidade. Nesse momento já temos espaço suficiente para perceber dentro de nós o hipócrita.

 

O hipócrita que vive dentro de mim

“O verdadeiro hipócrita é aquele que deixa de perceber sua falsidade. Aquele que mente com sinceridade.”

Anatole France

“Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade”
Mateus 23:28

 

            Isso mesmo. Dentro de cada um de nós vive um hipócrita. Esse “mascarado” que domina nossas ações e subjuga nosso “eu original”, tomando nosso lugar nos relacionamentos e na vida. O pior, é que ficamos tão completamente tomados pelo hipócrita que passamos a tentar apresentá-lo a Deus como sendo nosso verdadeiro eu. Assim procuramos viver e apresentar a Deus uma vida legalista, limitada e falsa. E claro, se temos a audácia de apresentar-se a Deus como hipócrita, quem dirá as pessoas que nos cercam e fazem parte de nosso relacionamento diário.

Ao começarmos a viver dessa forma, deixando o hipócrita dominar nossas ações, tornamo-nos empecilho para a ação de Cristo, pois estamos dominados pelo medo para arriscar, inseguros para lutar contra o hipócrita, e claro, insensíveis para perceber a ação de Deus e a necessidade do outro. Não conseguimos ouvir a vós de Deus falando para o meu “eu original” que nos aceita, falando “filho eu te criei. Mostre-se a mim como eu sonhei você, não tenha medo”.

Tornamo-nos como fariseus. Falsos, religiosos e completamente preocupados com a nossa aparência. Sentimos segurança em apresentar aquilo que não somos e obrigamos as pessoas a viverem coisas que nem mesmo nós vivemos. Criamos padrões distorcidos e nos calçamos em sistemas religiosos e ritualísticos. Acabamos por anular nossos sentimentos, nossa vida e invalidamos a graça que Cristo nos dá. Escondemos com isso nossas falas e erros. Deixamos de confessar nossos pecados e não existe no hipócrita o arrependimento, pois ele não percebe seu próprio erro. “Coamos mosquitos engolimos o camelo”. Nesse quadro podemos ver em nossas vidas o que denunciou Jesus:

“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros branqueados, que por fora parecem realmente vistosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia”

Mateus 23:27

            Porém, não somos chamados para vivermos uma vida fake. Somos chamados para termos vida abundante. Como então viver essa nova realidade?
Vivendo a Viva plena

“Mas, se estiver satisfeito em simplesmente ser você mesmo, você terá vida plena”

            O primeiro passo que devemos dar é reconhecer o hipócrita que vive dentro de nós. Perceber sua força e a habilidade que ele tem de nos convencer de que ele, o hipócrita, pode oferecer uma vida mais interessante se o deixarmos assumir o controle de tudo. Uma vida sem dores e sem riscos. Uma vida sem exposição, confortável. Se não o reconhecemos, não podemos lutar contra ele.

Esse é outro aspecto importante. Não temos como vencer essa luta no modo solo. Se tentarmos, nos desgastaremos e acabaremos por ceder ao medo e a insegurança, acabando por fortalecer o hipócrita que vive dentro de nós. O que fazer?

O Segundo passo é se encher do amor de Cristo. Não devemos ter medo de quem somos, pois o que sou, é criado por Deus. Ele me dotou de particularidades e personalidade próprias. Ele me deu sua imagem. Somos criaturas de Deus. Quando olhamos para Deus e percebemos seu amor, quando entendemos que Ele nos amou primeiro, conseguimos aceitar a nós mesmos, começando a não mais ter medo, como disse João, “mas o perfeito amor lança fora o medo” (I João 4.18).  Dessa forma vamos até a presença de Deus como filhos amados e sentimos o conforto e a segurança de Abbá. Já não temos medo de quem somos.

Quando voltamos a nos apresentar ao Pai como o “eu original”, reconhecemos nossas fraquezas mas somos fortalecidos por Cristo. Dessa forma, em Cristo, podemos Jesus. Somente na presença da pessoa de Cristo podemos enfraquecê-lo.  Somente ao perceber que somos totalmente aceitos por Deus através de Cristo é que podemos viver sem máscaras.

Dessa forma, poderemos testemunhar do amor de Cristo que nos restaura. Teremos relacionamentos mais intensos e verdadeiros, tanto com nossos amigos e familiares quanto com a sociedade. Assim poderemos realmente ser servos e mostrar a muitos o poder transformador e restaurador de Cristo Jesus.

Minha oração é que a cada dia eu possa me apresentar a Deus sem medo e reservas. Apresentar-se realmente como sou, com meus erros e falhas, mas mostrando-me necessitado do favor do Pai. Que eu possa, no amor de Jesus, não mais ser o hipócrita. Viver sendo eu mesmo, para louvor, honra e glória de Deus.

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